
A dehidroepiandrosterona (DHEA) e a sua forma sulfatada, o sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEA-S), são os esteroides mais abundantes na nossa circulação. No entanto, sua produção natural entra em declínio a partir dos 20 anos de idade, após atingir o nível máximo de concentração. Esse fato vem aumentando o número de adeptos da terapia hormonal antienvelhecimento, motivando estudos sobre a importância desse hormônio e os riscos de seu excesso em nosso organismo.
Ambos DHEA-S e DHEA são produzidos principalmente nas glândulas adrenais a partir do colesterol e precursores hormonais muito importantes, em especial dos estrogênios e da testosterona. Além de funcionar como um substrato para outros hormônios, algumas evidências científicas indicam que o DHEA também desempenha mais funções no nosso organismo. Estudos recentes mostram que maiores níveis fisiológicos de DHEA têm sido associados com o maior bem-estar, melhor condicionamento físico e maior força muscular. Existe também uma evidência dos efeitos do DHEA sobre a densidade óssea, bem como seu efeito anti-inflamatório e no sistema imune.
Vale ressaltar que, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a prescrição da DHEA (dehidroepiandrosterona) não deve ser feita com os objetivos de se prevenir a perda funcional da velhice ou prevenir doenças crônicas, pois não existem evidências que a justifiquem nessas situações. Em 2012, o Conselho Federal de Medicina emitiu uma resolução que proíbe a terapia antienvelhecimento, muto comum nos Estados Unidos. Desde então, hormônios só podem ser receitados quando houver déficit comprovado da substância no organismo do paciente.
De fato, a maioria dos ensaios clínicos mostram resultados inconsistentes para a sua suplementação, mas a avaliação do declínio da DHEA-S e dos níveis de DHEA mantém-se em evidência nos estudos atuais sobre a biologia do envelhecimento. Um estudo recente de Rendina D. et al publicado em julho de 2016 no Journal of Gerontology mostra que as diminuições do S-DHEA e do DHEA são paralelas às alterações relacionadas com o envelhecimento, em especial, com as habilidades físicas e mentais.
Os autores destacam que “a dosagem do S-DHEA deveria fazer parte de uma rotina laboratorial como marcador e bioindicador de vitalidade nos idosos. Ele também pode transmitir o prognóstico para os indivíduos com decréscimo da função física e com risco de apresentar maior fragilidade.”
Há também estudos que associam baixos níveis esperados para idade com maior mortalidade por doenças cardiovasculares e uma maior probabilidade de desenvolver doenças crônicas, como diabetes 2. Os pesquisadores apontam que pacientes com diabetes 2 e com outras doenças crônicas parecem apresentar menores níveis de S-DHEA, mas a direção dessas associações ainda não foram totalmente estabelecidas pela comunidade científica.
Em resumo, a distinção entre um declínio relacionado com a idade típica e um decréscimo acelerado do S-DHEA pode ser significante e tem sido o foco desses estudos. Assim, uma possível inclusão futura da analise sérica do S-DHEA como rotina em pacientes com fragilidade ou declínio acentuado da vitalidade pode ser uma nova arma para os médicos que atuam no campo da gerontologia.
Referências:
1 – Ohlsson C et al. DHEA and mortality: What is the nature of the association? J Steroid Biochem Mol Biol. 2015;145:248– 253. doi:10.1016/j.jsbmb.2014.03.006
2. Arlt W. Dehydroepiandrosterone and ageing. Best Pract Res Clin Endo- crinol Metab. 2004;18(3):363–380. doi:10.1016/j.beem.2004.02.006
3. Traish AM et al. Dehydroepiandrosterone (DHEA)– a precursor steroid or an active hormone in human physiol- ogy. J Sex Med. 2011;8(11):2960–2982; quiz 2983. doi:10.1111/j.1743- 6109.2011.02523.x